quinta-feira, 18 de março de 2010

Rumo aos 140 anos da Comuna de Paris - Parte 1


"Na alvorada de 18 de Março (1871), Paris foi despertada por este grito de trovão: VIVE LA COMMUNE!” (Marx)

Segunda metade do século XIX: faltando ainda alguns anos para o primeiro centenário da Grande Revolução Francesa, ventos revolucionários ainda varriam o território francês e também toda a Europa. Após a derrota para a então Prússia, em 1870, e em meio ao processo de unificação da Itália e da Alemanha, a França e toda a Europa assistem a primeira experiência de governo operário da História: a Comuna de Paris.

O dia era 18 de março de 1871. Apesar de uma curta duração – apenas 72 dias – a Comuna de Paris tornou-se um símbolo da esquerda mundial, pelo cunho socialista adotado pelo governo comunal em Paris. Marx sabiamente diz, em seu “Guerra Civil em França”, que “a Paris operária, com a sua Comuna, será para sempre celebrada como a gloriosa percursora de uma sociedade nova. A recordação dos seus mártires conserva-se piedosamente no grande coração da classe operária. Quanto aos seus exterminadores, a História já os pregou a um pelourinho eterno, e todas as orações dos seus padres não conseguirão resgatá-los”.

Antecedentes da Comuna
Em meados do século XIX, a França adotava o regime republicano, sendo governada por Luís Bonaparte (sobrinho de Napoleão Bonaparte, que governou a França até 1815). Em 1851, tendo intenções de continuar no poder mas tendo o impeditivo constitucional, Luís Bonaparte dá um golpe, semelhante àquele que foi dado por Napoleão em 1799, e institui a ditadura. Era o “18 Brumário de Luís Bonaparte”.

Tendo o apoio da população francesa, Luís Bonaparte realiza um plebiscito em 1852 e institui novamente o Império na França, sendo coroado imperador e recebendo o título de Napoleão III. O Segundo Império – como ficou conhecido historicamente este período – foi marcado por uma opressão intensa ao Legislativo e às forças opositoras ao imperador. Do ponto de vista econômico, Napoleão III favoreceu a modernização e o desenvolvimento da França, além de realizar um operação de reurbanização de Paris.

Na política externa, Napoleão III tentou resgatar a política expansionista implementada anteriormente por seu tio, no início daquele século, mas esbarrou nos interesses de um Estado vizinho – a Prússia, que já despontava como um poderoso território industrial. Assim, em 1870 tem início a Guerra Franco-Prussiana. Contudo, como o exército prussiano era melhor preparado e mais numeroso que o francês, a Prússia derrotou facilmente a França, prendendo Napoleão III e impondo um armistício bem humilhante à França.

Governo Provisório e a formação da Comuna
Com a prisão de Napoleão III e o fim do Segundo Império Francês, foi formado um Governo Provisório – a Terceira República Francesa -, tendo como presidente Adolphe Thiers. O novo presidente, cumprindo o tratado de paz feito com Bismarck, da Prússia, teve que entregar boa parte do seu Exército Permanente ao Estado vizinho, bem como suas armas. Naturalmente, a submissão aos termos prussianos gerou um descontentamento generalizado na população de Paris.

Diante da baixa do Exército Permanente, o único setor armado na França era a Guarda Nacional, formada basicamente por operários e poucos membros da pequena burguesia. Assim, com o objetivo de formar uma resistência ao exército prussiano, a Guarda Nacional toma a Prefeitura de Paris, onde estava sediado o Governo Provisório, e expulsa os membros da Assembléia, que se refugiam em Versalhes. No dia 18 de março de 1871, Thiers mobiliza alguns correligionários e tenta invadir durante a madrugada a Prefeitura de Paris.

Mesmo pegos de surpresa, o Comitê Central da Guarda Nacional conta com o apoio armado da população, conseguindo expulsar o grupo de Thiers e proclamando um governo popular, de cunho socialista, independente da Assembléia de Versalhes: era a Comuna de Paris. Começava nesse 18 de março de 1871 a primeira experiência de governo operário e socialista da História.

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