sábado, 15 de maio de 2010

Indícios de recebimento de propina por políticos do PSDB assombram ninho tucano


Não bastasse o fantasma do caso Alstom para assombrar o centro da campanha tucana de José Serra à Presidência da República, a vinda à tona de novos indícios do envolvimento do PSDB em outro escândalo relativo ao pagamento de propinas em São Paulo faz arrepiar definitivamente as penas dos tucanos. Isto porque a revista Época publicou em sua edição deste sábado, 15, uma matéria intitulada ”Ecos do buraco tucano”, trazendo novas denúncias sobre o envolvimento de quadros do alto escalão tucano no estado de SP com o recebimento ilegal de propinas pagas pela empreiteira Camargo Corrêa.

A empreiteira é uma das principais responsáveis pela construção das duas principais vitrines do governo Serra em São Paulo: a linha 4 do metrô paulistano e o trecho sul do Rodoanel. Segundo a matéria veiculada pela Época, um pen drive e uma pasta de documentos apreendidos pela Polícia Federal na residência do diretor financeiro da Camargo Corrêa, Pietro Giavina Bianchi, ampliaram os indícios de pagamento de propina pela construtora a quadros do tucanato paulista. Em um manuscrito com anotações de Bianchi, ao lado de uma relação de valores constavam as siglas AM e o nome “Arnaldo Madeira”.

Os indícios do suposto propinoduto tucano em SP
Para quem não sabe, o deputado federal Arnaldo Madeira (PSDB-SP) foi o chefe da Casa Civil do governo de São Paulo durante a gestão Geraldo Alckmin. De acordo com a reportagem da revista: “os valores, segundo a conclusão da PF, foram contabilizados como ‘custos diversos’ por Bianchi e representaria 5% da receita líquida da empresa no dia 21 de março. No total, esses ‘custos diversos’ representariam R$ 326.500 e foram divididos em três partes: R$ 32.650 (0,5%) para ‘AM’; R$ 130.600 (2%) para ‘CAMP’, ao lado das anotações ‘Rosa + Arnaldo Madeira’; e R$ 163.250 para ‘Metrô (+ Ass)’, seguida do manuscrito ‘David’”.

A interpretação da Polícia Federal, segundo consta na matéria da Época, foi de que a identificação “David” poderia ser uma menção a Luiz Carlos Frayze David, que foi presidente da Companhia do Metropolitano entre 2003 e 2007. David saiu da presidência do Metrô de SP em fevereiro de 2007, quarenta dias após o acidente na estação de metrô Pinheiros, que matou sete pessoas. De acordo com a matéria da Época, “no relatório da inteligência da PF sobre o material apreendido na casa de Bianchi, o maior número de menções se refere supostamente ao ex-presidente do Metrô Luiz Carlos Frayze David”.

A revista apurou que “são quatro referências, que totalizariam R$ 778.220. Numa anotação datada de 31 de janeiro de 2006, ele foi identificado pelos policiais federais como o ‘DV+DIR+ASS’ que teria recebido R$ 160 mil da Camargo Corrêa. Ele também estaria representado pelas siglas ‘DV’ e ‘Diret’”. A reportagem ainda aponta irregularidades na obra do trecho sul do Rodoanel, onde as principais suspeitas recaem sobre Paulo Vieira de Souza, ou simplesmente “Paulo Preto”, que foi diretor do Desenvolvimento Rodoviário S.A. (Dersa), o órgão responsável pelo Rodoanel. Paulo Preto é amigo de Aloysio Nunes Ferreira, ex-secretário da Casa Civil do governo Serra e candidato a senador pelo PSDB.

“Segundo os policiais, Souza teria recebido quatro pagamentos mensais de R$ 416.500, desde dezembro de 2007. Neste ano, apenas oito dias depois de ter participado da inauguração do Rodoanel, Souza foi exonerado do cargo sem explicações oficiais”, aponta a revista Época. No dia 15 de janeiro deste ano, a Folha de São Paulo publicou uma matéria em que já sinalizava as fortes evidências do pagamento de propina por parte da Camargo Corrêa a políticos e autoridades públicas. De acordo com a Folha, “em dezenas de anotações manuscritas, digitalizadas e arquivadas em dois pendrives atribuídos a Bianchi, há informações sobre o andamento de obras públicas com o nome de autoridades públicas e valores em dólares e em reais”.

A reportagem da Folha também apontava que “em alguns casos, o documento é seguido por comprovantes de transferência bancária internacional, os chamados ‘swifts’, cujos valores eram similares ao do suposto pagamento, o que leva as autoridades brasileiras a acreditar num suposto acerto de contas no exterior”, fazendo a ressalva de que “para a Justiça, apenas os documentos digitalizados e apreendidos, sem uma comprovação efetiva da ocorrência de pagamentos, não configuram por si só prova contra as pessoas citadas”.

O que se percebe, dessa maneira, é que os tucanos têm motivos de sobra para se preocuparem, uma vez que além dos fortes indícios de envolvimento do PSDB no esquema de favorecimento do caso Alstom, agora há também essas denúncias de envolvimento do partido no esquema de propinas da empreiteira Camargo Corrêa. Mesmo sendo apenas fortes indícios e não havendo nada de concreto provado ainda, as suspeitas em si já fazem estremecer o ninho tucano, pois escândalos no meio do jogo eleitoral nunca são bem vindos.

Entenda a Operação Castelo de Areia
A Operação Castelo de Areia foi deflagrada pela Polícia Federal no dia 25 de março de 2009 para apurar supostos crimes financeiros e doações ilegais a partidos políticos feitos pela empreiteira Camargo Corrêa. Naquela ocasião, foram presos quatro executivos da empresa, duas secretárias e quatro supostos doleiros, que ficaram detidos durante quatro dias, e depois foram soltos. A principal acusação que pesa contra a empreiteira diz respeito ao desvio de obras públicas superfaturadas para abastecer contas ilegais no exterior.

Segundo as investigações da Polícia Federal, o envio do dinheiro para o exterior se dava através da atuação de doleiros, que utilizavam empresas fantasmas para realizarem as remessas. O relatório da PF aponta ainda doações ilegais feitas ao PPS, PSB, PDT, DEM, PP e PSDB, durante campanhas eleitorais. É importante salientar que o relatório da PF também cita o PT, PTB e PV, mas dentro de um contexto em que se fala de “recibos de doação”, ou seja, ligados a repasses feitos dentro da lei. A Camargo Corrêa informou que em 2008 doou R$ 23,9 milhões legalmente a partidos e candidatos, colocando-se à disposição da Polícia Federal para as investigações.

Em janeiro deste ano, o ministro Cesar Asfor Rocha, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), decidiu paralisar por meio de uma liminar todos os processos relativos à Operação Castelo de Areia até que seja julgado o pedido da defesa da Camargo Corrêa que reclama de irregularidades na investigação.

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