domingo, 23 de maio de 2010

O teto de Dilma é o desejo de continuidade



Não bastassem as recentes pesquisas mostrando um forte crescimento da pré-candidatura governista de Dilma Rousseff, a entrevista do presidente do Instituto Vox Populi, Marcos Coimbra, ao jornalista Ricardo Noblat, na tarde deste domingo, 23, jogou um novo balde de água fria nos ânimos demo-tucanos. Isto porque ao longo da entrevista, concedida por meio do serviço de microblog Twitter, Coimbra destacou o cenário de amplo favoritismo para Dilma, destacando o grande potencial de crescimento de sua candidatura e a posição de grande desvantagem de seu principal adversário, José Serra.

Coimbra citou o fato de Dilma ainda ser bem menos conhecida do que Serra, o que amplia, aliado à elevada aprovação do presidente Lula, o seu potencial de crescimento. Em determinado momento da entrevista, ficou perceptível o incômodo do jornalista Noblat, que chegou a ponto de declarar que Serra não havia feito campanha antecipada, ignorando o fato de que o tucano vive em campanha permanente desde que foi secretário do Planejamento da gestão Montoro em São Paulo, nos anos 80. O presidente do Vox Populi destacou que nem mesmo uma suposta entrada de Aécio Neves na chapa de Serra deve alterar significativamente o cenário desfavorável à oposição.

Apesar de apontar um cenário amplamente otimista para a candidatura de Dilma, Coimbra frisou que “favoritismo não basta para ganhar uma eleição”. Contudo, a entrevista certamente causou um maior alvoroço no ninho tucano, que há alguns dias tem sido bombardeado por notícias nada favoráveis à pré-candidatura de José Serra. Fato é que ainda há toda uma campanha pela frente, mas a tirar das projeções de Marcos Coimbra, Serra terá que fazer grandes malabarismos para tentar reverter esse cenário desfavorável à sua candidatura. Confira abaixo a íntegra da entrevista de Marcos Coimbra ao Blog do Noblat.

Noblat: Boa tarde, Marcos Coimbra. Quem tem mais chances de se eleger presidente da República em outubro próximo?
Coimbra: Boa tarde, Noblat. Dilma é favorita, mas favoritismo não basta para ganhar uma eleição

Noblat: Por que você considera Dilma favorita?
Coimbra:
Ela empatou com Serra e tem um espaço de crescimento aberto à frente, junto ao eleitorado que está disposto a votar na candidata do Lula

Noblat: Isso é suficiente para que Dilma se eleja? Serra não tem espaço para crescer?
Coimbra:
Serra é conhecido por 80% da população, com menos espaço para crescer. Dilma tem crescido tirando intenções de voto dele.

Noblat: A essa altura, quantos por cento das intenções de voto de Dilma resultam de transferência feita por Lula?
Coimbra:
Dilma é a candidata dele, de continuidade do que ele representa. Nesse sentido, toda a intenção de voto que tem vem de Lula e do governo.

Noblat: Dilma corre o risco de o eleitor, a certa altura, concluir que votar nela não significa votar em Lula, não é a mesma coisa?
Coimbra:
Claro que não é e o eleitor sabe disso. Quem pensa em votar nela não acha que Lula vai mandar, mas acha que ela preservará o que ele faz.

Noblat: Se os votos de Dilma não são dela, mas de Lula e do governo, o candidato poderia ser qualquer outro bom auxiliar de Lula. Ou não?
Coimbra:
Me parece q sim, mas Lula deve ter tido razões para preferi-la. Seu papel no governo, seu perfil técnico, sua identificação com ele.

Noblat: Pelos seus cálculos, quantos por cento a mais de votos Lula ainda poderá repassar para Dilma?
Coimbra:
Há ainda cerca de 40% do eleitorado que conhece mal ou não conhece Dilma. Ela pode crescer mais 20 pontos nesse segmento.

Noblat: Fernando Henrique Cardoso tira votos de Serra? Ou freia seu crescimento? Há algum tipo de cálculo a esse respeito?
Coimbra: A imagem de FHC é negativa e a maioria das pessoas acha que o governo dele foi muito pior que o de Lula. Isso é ruim para Serra.

Noblat: Por que Dilma cresceu tanto em maio? Exposição em programas partidários na TV? Companhia de Lula no programa do PT? Ou cresceria de todo jeito?
Coimbra:
Todas as opções estão corretas. A propaganda do partido ajudou, Lula também, e ela estava em crescimento, lento, mas firme.

Noblat: Em junho, Serra terá muito espaço nos programas de TV de partidos. Automaticamente ele crescerá?
Coimbra:
Ele é muito conhecido, o que limita essa hipótese. Mas deve melhorar, nem que seja por sustar o crescimento natural de Dilma.

Noblat: Lula já foi multado 4 vezes por fazer propaganda de Dilma antes do tempo. Faz mais de um ano que ele está em campanha por ela. Isso não a ajudou?
Coimbra:
Mais que ajudou, é a explicação de tudo. Ele antecipou a campanha, todo mundo entrou em campo e ele teve tempo para apresentar sua candidata.

Noblat: Todo mundo, não. Serra não entrou. E ninguém dispunha do grau de exposição de Lula e de Dilma.
Coimbra:
Desde 2009, todos os programas partidários foram eleitorais, PT, PSB e PSDB. Quanto à demora de Serra, a decisão foi dele e só dele.

Noblat: Serra tem um "teto" de votos que dificilmente ultrapassará? Qual seria?
Coimbra:
Serra tem um piso alto e um teto limitado pela eleição que fazemos, onde o eleitor se pronuncia sobre politicas e governos e não sobre biografia

Noblat: E o teto de Dilma e de Marina Silva?
Coimbra:
O teto de Dilma é o desejo de continuidade, que é muito alto. Marina corre o risco de ficar espremida entre dois grandes e não conseguir crescer.

Noblat: O que Serra precisaria fazer para driblar esse quadro desfavorável e ganhar? Ou não tem como?
Coimbra:
Tentar trazer a eleição para o campo dele, a comparação de currículos. Torcer para que Dilma erre muito. Mas sua posição é de desvantagem.

Noblat: Aécio de vice poderia ajudar Serra a se eleger ou não acrescentaria grande coisa?
Coimbra: Aécio só é bem conhecido em MG, onde Lula é muito querido. Serra está bem e é dificil avaliar se um ganho em Minas faria diferença.

Noblat: Não dá para avaliar se um ganho em Minas faria diferença para Serra? Ou você prefere não avaliar?
Coimbra:
Minas é 11% do eleitorado. Aumentar 20 pontos no estado é 2% no total. Pode ser muito pouco no resultado final.

Noblat: Últimas perguntas. Por que a História registra erros tão clamorosos cometidos por institutos de pesquisa?
Coimbra: Os erros existem e todos procuramos reduzi-los ao mínimo. Mas os institutos brasileiros estão entre os que mais acertam no mundo.

Noblat: É certo que institutos pesquisem ao mesmo tempo para partidos e meios de comunicação?
Coimbra:
É nossa tradição, mas é natural que seja discutida. Pode ser um dos itens a tratar na reforma política que aguardamos.

Noblat: Por fim - Montenegro, presidente do IBOPE, disse à VEJA no ano passado que a eleição de Serra era segura. Era na época ou ele estava errado?
Coimbra:
Acho que seria melhor perguntar isso a ele.

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