segunda-feira, 28 de junho de 2010

Crise demo-tucana: presidente do PSDB diz que DEM comprometeu campanha de Serra

A novela do candidato tucano José Serra para a escolha do seu vice caminha para um final que certamente não era o sonhado pela oposição: a de uma racha exposto na sua base de apoio, ampliado a partir da última sexta-feira. Desde que o PSDB anunciou o nome do senador tucano Álvaro Dias para ocupar a vice de Serra na chapa presidencial, o mais importante aliado dos tucanos – o DEM – deflagrou uma campanha aberta contra a indicação, haja vista que o partido requeria pra si o direito de indicar o nome para compor com Serra a chapa oposicionista.

Neste sentido, o final de semana foi bem agitado no campo da oposição, com o PSDB tentando colocar “panos quentes” e o DEM, por sua vez, dividido, com uma parte de suas lideranças achando conveniente acatar a decisão tucana e outra parte, liderada pelo deputado federal Ronaldo Caiado (GO) e pelo próprio presidente da legenda, Rodrigo Maia (RJ), chegando a ameaçar uma ruptura da aliança com o PSDB caso Serra não honrasse o compromisso de ceder o vice ao DEM. No domingo, 27, as principais lideranças do DEM se reuniram no Rio de Janeiro para discutir qual seria a saída para o partido, que tem sua convenção marcada para a próxima quarta-feira, 30.

A avaliação foi de que uma ruptura não seria interessante, à medida que o DEM teria aí dois caminhos: lançar uma chapa própria, que a essa altura do campeonato é altamente inviável, ou então permanecer neutro na disputa. Esta última opção, contudo, tende a favorecer a campanha da petista Dilma Rousseff, uma vez que em uma eventual neutralidade, o tempo de rádio e TV do DEM seria dividido proporcionalmente entre todas as coligações: a coligação de Dilma ficaria com 61% do tempo, ao passo que a de Serra abocanharia apenas 29%. Assim, os demos teriam saído do encontro dispostos a aceitarem a decisão do PSDB, procurando, contudo, uma “saída honrosa” para o partido.

Presidente do PSDB diz que DEM comprometeu vitória
Embora tudo caminhe para uma concordância forçada do DEM em relação ao nome de Álvaro Dias para vice de Serra, é inegável que o estrago já está feito no campo oposicionista. Isto porque parece pouco provável que o DEM, ou pelo menos parte dele, irá se empenhar na campanha de Serra como se empenharia caso tivesse indicado o vice. E o PSDB sabe bem o que é sair dividido para uma campanha: afinal de contas, em 2002 e 2006, a base de apoio ao partido estava amplamente dividida, o que prejudicou de maneira considerável o desempenho da oposição nas urnas. E ao que tudo indica, em 2010 deverá ocorrer o mesmo.

Tanto que na manhã desta segunda-feira, 28, o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, em entrevista à Rádio CBN, declarou que “eu temo que nós tenhamos, nesse episódio, atuado para comprometer a nossa vitória. Isso é o que eu acho. Na questão de um partido ter o apoio do outro, nós já votamos nos democratas e os democratas votam conosco há muitos anos. Não é esse o problema. O problema é de ter unidade, tranquilidade e uma noção construtiva da luta que nós enfrentamos”. Embora não se possa dizer que Guerra tenha jogado a toalha, pode-se pelo menos dizer que o tucano parece já ter aproveitado o episódio para criar um fato político que possa ser usado mais tarde em caso de derrota de Serra e colocar na conta do DEM a responsabilidade pelo fraco desempenho da campanha.

Sobre a reação do DEM no final de semana, Guerra disparou: “evidente que eu compreendo, mas não justifico. Acho equivocada, não devia ser assim. Não há constrangimento em discutir, sentar, avaliar, reavaliar. Agora, não há o menor sentido, a partir daí, de ter uma atitude agressiva, que, tenho certeza, não é a atitude do Rodrigo [Maia, presidente do DEM] e nem do DEM no médio e no longo prazo”. O que se percebe nas entrelinhas é que o PSDB deverá, provavelmente, e como dito anteriormente, se aproveitar desse fato para culpar o DEM por uma possível derrota de Serra nas urnas, sendo uma forma bastante astuta que os tucanos encontram de afirmarem que o problema não esteve no candidato, mas no comportamento dos aliados.

Agora, cabe uma questão: a escolha de Álvaro Dias teria sido sob este espectro premeditada no sentido de criar um fato político para justificar uma possível derrota? Sim, pois o argumento dado por Sérgio Guerra para a escolha do senador paranaense não é nada convincente. À CBN, Guerra afirmou que “o PSDB sugeriu um nome, o do senador Álvaro Dias. Por que ele sugeriu? É um senador de qualidade. Além do mais, significaria a consolidação de uma vitória grande que nós esperamos ter no Sul do país de uma maneira geral, e no Paraná em particular”. Com todo respeito ao senador Álvaro Dias, mas ele está longe de ser um nome que agrega votos e seu reduto eleitoral é um estado com pouco peso de decisão sobre a eleição nacional.

Ou seja, não é absurdo pensarmos que a escolha de Dias teria sido uma forma astuta de se produzir uma crise na base de apoio (que já era esperada, pois o DEM reivindicava para si a vice desde a desistência de Aécio Neves) e daí criar um fato político para justificar uma eventual derrota nas urnas. De qualquer forma, a campanha começa de uma maneira nada agradável para a oposição: sem unidade, sem discurso claro e atrás nas pesquisas de intenção de voto, a candidatura de Serra caminha por um rumo nebuloso, em que as chances de êxito são de fato bastante remotas. Continuemos a conferir.

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