segunda-feira, 14 de junho de 2010

Indecisão de Serra para escolher vice irrita DEM e expõe fissuras em sua base de apoio

A velha máxima popular de que “o mar não está para peixe” ficaria muito adequada no atual cenário da disputa presidencial se corrigida para “o mar não está para tucano”. De fato, a campanha do tucano José Serra à Presidência da República tem enfrentado muitos problemas, com uma estratégia que patina entre o ataque ao governo Lula e a tentativa de apresentar Serra como continuidade do atual presidente e com a escassa base de apoio. Para complicar ainda mais a situação, criou-se um imbróglio no campo da oposição em torno do nome que entrará como vice de Serra nessa disputa presidencial.

Segundo reportagem publicada nesta segunda-feira, 14, no Blog do Josias de Souza, da Folha de São Paulo, Serra cada vez mais sinaliza sua preferência por um nome tucano, o que vem desagradando sobremaneira um aliado importante do PSDB: o DEM, que já estaria ensaiando uma crise no ninho tucano. A razão é bem simples: o DEM, que é a segunda maior força da oposição, teria no início deste ano aceitado abrir mão da indicação do vice de Serra em caso do ex-governador mineiro Aécio Neves aceitar compor a chapa com o presidenciável. A decisão do DEM foi racional, pois Aécio é um nome que tem capacidade de agregação forte, sobretudo no segundo maior colégio eleitoral do país.

Contudo, após o ex-governador mineiro descartar a hipótese e preferir a disputa ao Senado pelo seu estado, o impasse ficou instalado no campo da oposição, uma vez que naturalmente o DEM voltou a requisitar a vaga. E esse impasse tem ficado cada vez mais transparente à medida que Serra não se decide. De acordo com a reportagem de Josias de Souza, “é crescente a irritação dos caciques da tribo ‘demo’ com o estilo de Serra. Tacham-no de ‘centralizador’. Acusam-no de conduzir uma campanha ‘solitária’. Enquanto Serra esteve à frente nas pesquisas, as diferenças foram escamoteadas. A subida de Dilma Rousseff içou-as à superfície”.

Descontentamento do DEM
Como manifestação cabal desse descontentamento que paira sobre a cúpula dos demos diante da indecisão de José Serra, um dirigente do partido teria confidenciado ao repórter Josias de Souza, da Folha: “Se tivéssemos um nome alternativo, já teríamos mandato o Serra para aquele lugar”. E continuou: “para não acrescentar problemas a uma campanha já problemática, temos evitado a crítica pública. Mas o Serra não ajuda”. A insatisfação assim se espalha no meio da cúpula do DEM e, embora o líder do partido no Senado, José Agripino Maia, tente colocar “panos quentes”, uma ala do partido liderada por Rodrigo Maia (presidente do DEM) e Jorge Bornhausen batem o pé para indicar o vice de Serra.

A situação ficou ainda mais complicada quando vazou, há dois meses, a informação de que o ex-governador de São Paulo estaria flertando com o PP e, em troca do apoio da legenda, daria ao partido de Paulo Maluf a vez para indicar o vice da chapa, que provavelmente seria o senador Francisco Dornelles. Essa informação só fez ampliar a irritação de lideranças nacionais do DEM. Contudo, com a improbabilidade de que o PP se junte à oposição, já que o partido admite que escolherá entre ficar neutro ou continuar na base do governo, o DEM voltou a pressionar Serra pela indicação do vice, mas agora esbarra no desejo do candidato de constituir uma chapa puro-sangue.

Neste sentido, após a recusa de Aécio e de Tasso Jeireissati (PSDB-CE), Serra estaria pendido a escolher entre o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, e o senador paranaense Álvaro Dias para compor a sua chapa. Porém nenhum dos dois nomes agradam a cúpula do DEM e, mais que isso, o partido não admite nenhum outro tucano, fora Aécio, para compor a chapa com o ex-governador de São Paulo. A convenção do DEM está marcada para o dia 27 de junho e, nesta data, o partido planeja oficializar o apoio à candidatura de Serra e também o nome que comporá a chapa com ele. Contudo, o dirigente da legenda deixa escapar à Folha: “os convencionais não ficarão confortáveis em aprovar a aliança com um partido que nos trate como aliados de segunda classe”.

Considerando outro jargão popular, de que “para bom entendedor um pingo é letra”, podemos perceber que a cúpula do DEM já ensaia de fato partir para uma postura de maior cobrança a Serra, colocando-o contra a parede. É pouco provável que o partido aceite abrir mão da indicação do vice na chapa de Serra para acomodar outro tucano que não Aécio Neves. Este é mais um problema, no meio de um mar deles, para ser equacionado pelo candidato tucano. Para quem se julga tão experiente, aguardemos como será a condução dessa novela, que cada dia que passa parece estar mais distante ainda do seu fim.

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