segunda-feira, 14 de junho de 2010

Cadê o "poste" que a oposição tanto falava?

Aqueles que alguns meses atrás chamaram a candidata do PT à Presidência da República de “poste”, tentando colar nela uma imagem de inexperiência administrativa, certamente devem andar muito preocupados. Isto porque a cada entrevista, a cada aparição pública, Dilma tem mostrado que não é uma mera “sombra” do presidente Lula, como a grande imprensa gosta de rotulá-la, e tem um estilo próprio que, diga-se de passagem, encaixa-se adequadamente ao perfil desejado para um governante. Tal percepção ficou muito clara na entrevista dada pela candidata na manhã desta segunda-feira, 14, à Rádio Jovem Pan.

Dilma falou sobre temas centrais para o país, como carga tributária, política externa, relação com outros partidos no governo e eleições, com a desenvoltura de uma grande líder que em nada se assemelha a um “fantoche”. A ex-ministra tem um conhecimento profundo do Brasil: além de ter gravados em sua mente os principais números do país, a petista prova conhecer de uma maneira extraordinária o funcionamento da máquina pública brasileira e também o dia-a-dia dos milhões de brasileiros. E aí está o que liga fortemente a candidata ao presidente Lula: além de Dilma ter estado no centro das decisões sobre os principais programas do governo, ela conhece tão bem o Brasil quanto o próprio Lula.

A petista não foi um ministra de gabinete: tendo assumido a chefia da Casa Civil da República em meados de 2005, Dilma percorreu o Brasil de canto a canto, vistoriando obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e também de outros programas, o que lhe permitiu um contato muito grande com a população. Sem contar o fato que desde os anos 80 Dilma ocupa cargos administrativos no setor público: foi secretária da Fazenda de Porto Alegre na gestão do então prefeito Alceu Colares (PDT), foi por duas vezes Secretaria da Energia, Minas e Telecomunicações do estado do Rio Grande Sul (a primeira vez no governo de Alceu Colares e a segunda no de Olívio Dutra).

Por fim, em 2002, Dilma foi convidada por Lula para integrar a equipe de transição entre os meses de novembro e dezembro daquele ano. Em 2003, já no governo Lula, assumiu o Ministério das Minas e Energia, tendo sido responsável pelo novo marco regulatório do setor elétrico, que afastou o risco de novos racionamentos de energia (como o ocorrido no governo tucano de FHC) e por programas de universalização do acesso à energia elétrica, como o Luz para Todos. Em 2005, quando foi convidada por Lula para ser Ministra-Chefe da Casa Civil, a petista passou a coordenar todos os outros ministérios, provando a todos sua liderança e uma extraordinária capacidade administrativa.

Dilma tem profundo conhecimento do Brasil
Ao contrário do seu principal adversário, o tucano José Serra, que é excessivamente centralizador, Dilma prefere delegar funções e tarefas, como fica claro no próprio desenho da sua coordenação de campanha, onde cada um tem um papel e as decisões são tomadas em conjunto. A petista definitivamente não é centralizadora, mas tem um rígido controle de tudo que acontece ao seu redor, como deve ser um bom administrador. Em algumas ocasiões, o próprio presidente Lula brincou que “Dilma tem tudo no seu notebook: você pode estar dentro de um avião e querer saber de qualquer coisa; se ela não tiver o dado na cabeça, ela abre o notebook dela e em instantes te dá a resposta”.

O interessante é que mesmo sabendo de tudo isso, a oposição ainda tenta associar à Dilma a figura de “sombra” do presidente Lula. Em seu discurso durante a convenção estadual do PSDB de São Paulo, no último domingo, 13, o candidato tucano ao governo paulista, Geraldo Alckmin, chegou a repetir o mantra da oposição, de que “quem quer comandar o país não pode andar na garupa”. Ora, mas que garupa é essa coloca Dilma no protagonismo dos principais projetos desenvolvidos no governo Lula? Se ela fosse uma mera “carona” ela não teria esse conhecimento profundo e essa habilidade política que cada dia mais tem demonstrado em seus discursos e entrevistas.

É até compreensível que a oposição queira fazer uso desse discurso intelectualmente desonesto, que confunde experiência eleitoral com experiência administrativa, pois se os demo-tucanos se aventurarem a um debate propositivo com Dilma, eles terão ampla desvantagem. Como já ficou visível diversas vezes, o candidato Serra não tem o conhecimento profundo sobre o Brasil que a ex-ministra possui. Uma prova? Só lembrar as falhas no discurso de Serra durante a sabatina feita pela CNM (Confederação Nacional dos Municípios), em Belo Horizonte, no mês de maio, quando Serra não sabia nem o valor dos royalties que Minas Gerais recebe pelos seus minérios. Na ocasião, foi Dilma quem teve que soprar pra ele.

A entrevista dada nesta manhã à Rádio Jovem Pan confirma o profundo conhecimento de Dilma sobre os principais temas do país. Para desespero dos tucanos, a ex-ministra mostra cada dia mais que não é um poste e que tem o perfil adequado para assumir a Presidência da República. Abaixo, os principais pontos da entrevista de Dilma à Jovem Pan:

Sobre o suposto dossiê contra Serra:
Respondendo às perguntas dos jornalistas Anchieta Filho e Fernando Rodrigues sobre o suposto dossiê contra Serra, que a grande imprensa atribui autoria à coordenação de campanha do PT, Dilma destacou:

“Posso dizer com toda certeza que minha campanha não fez nenhum documento, de qualquer natureza, que dissesse respeito a outras pessoas. Estamos muito tranqüilos. É muito melhor a gente discutir programas, projetos, apresentar propostas, do que ficar usando de certos expedientes para tentar alguma vantagem”.

“Eu não vou me manifestar sobre outras pessoas que não estão na minha campanha, que eram de empresas contratadas. Vocês sabem que todas as campanhas contratam empresas de comunicação. Eu não me responsabilizo pelo que faz um diretor de uma empresa de comunicação”.

Sobre a reforma tributária:
Respondendo ao jornalista Patrick Santos se a reforma tributária será uma prioridade no seu governo e que tipo de tratamento será dado à questão, Dilma destacou:

“Essa questão da reforma tributária é um dos pontos mais importantes da minha proposta e do meu programa de governo. A gente tem que reconhecer que o sistema tributário brasileiro é um caos até para gente ter um empenho de mudá-lo. Uma de suas manifestações é o fato dele ter sobreposição de impostos. Outra é o fato de que algumas atividades econômicas são extremamente tributadas”.

“No caso da energia elétrica, ela sofre tributação pesada nos estados, com o ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços), que é a maior parcela da tributação. A outra parte é PIS/Cofins. Não pode haver uma tributação muito pesada sobre a energia elétrica. Há alguns estudos que demonstram que uma parte expressiva das receitas estaduais advêm de energia elétrica, combustíveis e telefonia. É esse trio que responde pela maioria das receitas dos Estados”.

“É por isso que ao se tocar num tributo, a gente tem que mexer de certa forma em todos para evitar, por exemplo, que você tirando a tributação da energia elétrica o Estado, qualquer estado do Brasil, entre em um processo de dificuldade para honrar suas despesas. Uma das coisas principais nessa questão é a simplificação dos impostos. Simplificar significa justamente fazer com que haja uma distribuição melhor e mais balanceada entre os três entes federativos”.

“Outra questão é acabar definitivamente com a tributação sobre o investimento. O governo Lula deu um passo muito importante nessa direção, mas ainda é necessário que se complete esse passo. Não é possível mais a gente conviver com a guerra fiscal entre os estados. De alguma forma, alguns estados baixam o ICMS, os produtos importados entram e as cadeias produtivas industriais dos estados que são mais industrializados são extremamente comprometidas. O estado que diminuiu o tributo ganha, mas o Brasil inteiro perde”.

“O Brasil não pode continuar tributando de forma tão pesada a folha de salários: essa tributação tem que ser reduzida. Agora, para não quebrar a Previdência, a União terá que compensar. Por isso que esse arranjo da reforma tributária é algo que tem que ser amplamente discutido com a sociedade, com os empresários e também entre os entes federativos”.

“Aliás, nós tentamos duas vezes uma reforma tributária, mas a resistência foi muito grande sobretudo porque alguns estados não queriam perder arrecadação. É necessário perceber que quando o Brasil cresce, é mais fácil fazer reforma tributária e distribuir esse reordenamento tributário, diminuindo o imposto e ampliando a base de arrecadação”.

Sobre a participação do PMDB em um eventual governo Dilma:
Respondendo ao jornalista Carlos Chagas, que perguntou sobre a frase dita pelo vice da candidata, o deputado federal Michel Temer, na convenção do PMDB, de que o partido teria protagonismo no governo, Dilma destacou:

“Eles se sentem participantes do governo, não coadjuvantes. Essa é uma questão que inclusive, quando o presidente Lula me orientava para coordenar os ministros, era a principal diretriz que ele me dava. Não se faz um governo com ministros de 1ª linha, 2ª linha e 3ª linha. Todos os ministros têm o mesmo estatuto, porque se você não respeitar todos os partidos como integrantes diretos do governo, você não tem a lealdade do partido. A lealdade a gente não obriga ninguém a ter, a gente conquista”.

Sobre a política externa brasileira:
Respondendo ao jornalista Fernando Rodrigues, Dilma destacou:

“Na questão da política externa, o Brasil deu um passo que é importante que se registre. Nós saímos de uma política de submissão para uma política de afirmação do protagonismo brasileiro. Não é nenhuma soberba: é uma constatação muito simples”.

“Política externa independente é aquela que valoriza primeiro os seus vizinhos. Se você na sua área regional de atuação não fortalecer seu vinculo com os países da região, você não cria um ambiente de paz e tranqüilidade. É um princípio da política externa você respeitar as condições de como a política dentro dos países é feita”.

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