quarta-feira, 2 de junho de 2010

Oposição tenta reeditar farsa dos "aloprados do PT", mas dá tiro no pé

A literatura está farta de personagens que, sendo vilões, tentam mascarar suas atitudes, passando-se por vítimas e imputando a outrem a autoria de erros ou crimes por eles cometidos. Alvo de diversos estudos psicanalíticos, esse tipo de comportamento é verificado com bastante freqüência em pessoas que, cheias de defeitos, buscam nos outros as mesmas falhas que vêem em si, como forma até mesmo de não se sentirem tão depreciadas. Na literatura ou na psicanálise esse tipo de comportamento é catalisado por momentos de grande pressão ou desespero, quando estas pessoas se sentem “acuadas” diante de uma situação e passam querer transferir o foco para outras pessoas.

Qualquer semelhança com o comportamento da oposição nestas eleições não é mera coincidência. Ao que tudo indica, o desespero chegou mais cedo do que o esperado no alto comando da pré-candidatura do tucano José Serra à Presidência da República, motivado principalmente pela estagnação do ex-governador de São Paulo nas recentes pesquisas de intenção de voto em contraponto ao forte crescimento da pré-candidata do PT, Dilma Rousseff. Assim, como um ato de desespero misturado com má fé, a oposição e a grande imprensa, a seu serviço, tentam ressuscitar a velha tática, tal qual em 2006, de imputar ao campo governista a produção de supostos “dossiês” contra José Serra.

A farsa da oposição foi bem orquestrada com a grande imprensa, incluindo aí a revista Veja e jornais como a Folha de São Paulo e o Globo, que trataram de montar todo um esquema para dar ampla repercussão ao tal “dossiê” que teria sido produzido pelo alto comando da campanha de Dilma e que tinha como alvo o tucano José Serra. Seria uma tentativa de repetir o episódio dos “aloprados” de 2006. Mas ao contrário do esperado pela oposição, a tática não deu certo: em poucas horas, o que seria um “escândalo de arapongagem do PT” se transformou num episódio ridículo da oposição, que simplesmente requentou fatos antigos, amplamente disseminados na internet, tentando-os passar por novos.

A farsa alimentada pela grande imprensa
A manobra oposicionista começou com a revista Veja que, em sua edição desta semana (2 de junho), traz uma matéria intitulada "Ordem na Casa do Lago Sul". Nesta reportagem, a Veja, que já é amplamente conhecida pelo seu jornalismo tendencioso, diz que petistas ligados à campanha de Dilma teriam tentado produzir um novo dossiê contra Serra, mas que logo foram impedidos pela coordenação da campanha. Entre descrições de grampos telefônicos a membros do próprio PT, como o deputado estadual de SP Rui Falcão e o ex-prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, e acusações de um novo dossiê contra Serra, a reportagem da Veja pavimentava o caminho para a tática da oposição.

Na noite de terça-feira, 1º de junho, o blog do jornalista Ricardo Noblat, do jornal O Globo, trazia mais relatos sobre o suposto “dossiê” produzido pela campanha de Dilma contra o tucano José Serra. Com o título de ”Dossiê contra Serra começa a vazar”, o artigo de Noblat dispara: “Começou a vazar por aqui partes do dossiê montado pelos novos aloprados do PT contra José Serra. A mais recente edição da VEJA deu conta da existência de um dossiê. E da ação dos novos aloprados, aparentemente suspensa”. E segue reproduzindo comentários de um leitor, identificado como “Fernando Barros”, a uma nota no seu blog.

Os comentários do leitor dão conta de uma suposta sociedade entre a filha de José Serra, Verônica Allende Serra, e a irmã do banqueiro Daniel Dantas, Verônica Dantas, em uma empresa denominada “Decidir.com” em Miami, nos Estados Unidos. O jornalista, por ardil ou por simples falta de pesquisa, publicou esses comentários dizendo que faziam parte do tal “dossiê” produzido pela campanha de Dilma contra Serra. O que a grande imprensa e a oposição não esperavam, contudo, era a imediata reação da blogosfera, que tratou de “informar” ao Globo que a notícia da sociedade entre a filha de Serra e a irmã de Daniel Dantas já estava na rede há um bom tempo.

Ora, uma simples pesquisa no site de buscas Google utilizando o nome da filha de José Serra, “Verônica Serra”, traz vários artigos datados de 2004 a 2008 falando da tal sociedade com a irmã de Daniel Dantas, presa por ocasião da Operação Satiagraha. A pergunta é: como é que informações de um suposto “dossiê” sigiloso contra Serra estavam na internet há mais de 5 anos? Percebendo a insustentabilidade da farsa, o jornalista Ricardo Noblat não encontrou saída senão se desculpar pela confusão, horas mais tarde: “Deixei agendado este post. Só há pouco fui alertado por um amigo que é velho e está disponível no Google o material que alimentaria o chamado novo dossiê contra Serra”.

Noblat ainda acrescentou: “antes de pinçar as informações postadas pelo leitor que se assina Fernando Barros e apresentá-las como parte do novo dossiê, consultei uma fonte que teve acesso ao novo dossiê. E ela me confirmou que as informações fazem parte dele, sim. Só não me disse - nem eu sabia - que são informações requentadas. Peço desculpas pelo erro”. Ou seja, a tentativa de golpe por parte do demo-tucanato, à semelhança do que foi feito em 2006, não deu certo e a oposição mais uma vez dá tiro no próprio pé. E fica muito clara neste episódio a tentativa da oposição e da imprensa a seu serviço de transformar Serra em “vítima” de perseguições do PT, quando o próprio demo-tucanato é o maior especialista em criar factóides, como esse. Ou alguém ainda acredita que o PT produz dossiês sigilosos com informações disponíveis na rede há mais de 5 anos?

Tentativa de inverter a pauta e vitimizar Serra
Agora, algo mais grave até que imputar ao comando da campanha petista a criação desse suposto “dossiê” contra Serra é a tentativa descarada da oposição em inverter a pauta, transformando essa notícia contra Serra (que já circula há muito tempo na rede, mas que é oportunamente mantida distante das grandes redações) em um suposto “dossiê”. Ainda que o tal dossiê fosse verdadeiro – que não é o caso, pois como discorrido anteriormente não há lógica para se produzir dossiê sigiloso com informações públicas – cabe a pergunta: o que é mais grave e passível de investigação: a produção do suposto “dossiê” ou o envolvimento de um parente próximo de um postulante à presidência da República com a irmã de um banqueiro que está sendo investigado por vários crimes no Brasil?

O Blog dos Amigos do Presidente Lula analisa com muita propriedade essa questão: “Quando notícias como esta foram contra o filho ou neta de Sarney, foram publicadas com estardalhaço como notícia, como vindo de fontes legítimas. Como a notícia é contra a filha de Serra, deixa de ser considerada notícia, inventa-se que é ‘dossiê’. O plano seria Serra, em vez de ter que explicar sobre a estranha sociedade de sua filha com a irmã de Daniel Dantas, posaria de vítima de dossiê que, por ser tratado como dossiê, sequer a notícia seria tratada como verdadeira”. Esta análise lúcida vai de encontro ao modo operandis dos demo-tucanos e da grande imprensa, que, não conseguindo segurar uma notícia que já tem força na rede, a trata como “dossiê” e tenta transformar Serra em vítima e o PT em vilão.

Outra coisa interessante de se destacar nessa tática da oposição é que os tais “dossiês” sempre apresentam uma contradição em relação ao momento em que eles vazam. Vejamos: se fosse mesmo verdade que o PT estivesse fazendo um dossiê contra Serra, não é razoável pensar que ele vazaria em um cenário em que o tucano estivesse com ampla vantagem sobre Dilma? Sim, pois em um cenário desse, a probabilidade de desespero recairia mais no lado petista do que no tucano. Mas não é esse o contexto político que estamos vendo: as recentes pesquisas de intenções de voto mostram Dilma e Serra empatados, com a petista ligeiramente à frente do tucano dentro da margem de erro. E os institutos mostram mais: que a tendência é Dilma crescer e ampliar sua vantagem sobre Serra, à medida que for se tornando mais conhecida e “colada” à imagem do presidente Lula.

Ora, não há fatores lógicos para se pensar em um desespero da campanha de Dilma com este cenário, mas há razões de sobra e bastante factíveis para se imaginar um grande desespero no ninho tucano, que vê o seu candidato estagnado e a petista crescendo cada dia mais. Logo, percebemos que um dossiê dessa natureza não interessa à campanha de Dilma, mas sim à própria campanha de Serra, que tenta de uma forma baixa reeditar o episódio dos “aloprados do PT” de 2006, se passando por vítima e tentando reverter um quadro desfavorável aos tucanos. Contudo, a farsa montada pela oposição, que ainda brada cobrando explicações de Dilma, não colou. E é importante que se diga que não vai colar nenhuma tentativa de golpe como este, porque o eleitor brasileiro está atento e quer saber de projetos, não de baixarias e acusações como está acostumada a oposição.

Afinal de contas, é no mínimo contraditório que um partido, como o PSDB, que grita aos quatro ventos que preza pela democracia brasileira se comporte de uma maneira tão anti-democrática quanto essa. Talvez a ausência de um projeto claro ou pior, a inviabilidade eleitoral de divulgar o seu real projeto, façam com que os tucanos não encontrem o tom adequado do seu discurso e, em rompantes de desespero, adotem esse tipo de prática nada saudável à democracia brasileira. Mais uma vez, o modo operandis da campanha de Serra mostra que este é o tipo de comportamento inadmissível para alguém que pleiteia ocupar a cadeira de Presidente da República e, neste sentido, os tucanos deram um tiro no próprio pé através da produção dessa farsa. Quanto mais eles se enrolam no seu labirinto de mentiras e farsas, mais Dilma cresce.

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