domingo, 14 de novembro de 2010

Como criar factóides: Folha omite informações dadas pela Petrobras para "fritar" ministeriável

É impressionante como a capacidade da Folha de São Paulo em criar factóides, transformando a realidade em uma “supra-realidade” existente somente dentro de suas redações, não conhece limites. Tanto na sua edição impressa quanto na edição online deste domingo, 14, a Folha trouxe uma matéria intitulada ”Petrobras tem 43 contratos com marido de ministeriável”, com o claro objetivo de associar a diretora de Gás e Energia da estatal, Maria das Graças Foster, nome cotado para o primeiro escalão do governo Dilma, a um esquema de favorecimento em que o beneficiado seria o seu marido.

De acordo com a reportagem da Folha, a empresa do marido de Graça, como é conhecida a diretora da Petrobras, “multiplicou os contratos com a Petrobras a partir de 2007, ano em que a engenheira ganhou cargo de direção na estatal”. O jornal prossegue dizendo que “nos últimos três anos, a C.Foster, de propriedade de Colin Vaughan Foster, assinou 42 contratos, sendo 20 sem licitação, para fornecer componentes eletrônicos para áreas de tecnologia, exploração e produção a diferentes unidades da estatal. Entre 2005 e 2007, apenas um processo de compra (sem licitação) havia sido feito com a empresa do marido de Graça, segundo a Petrobras”.

Quem lê a matéria fica exatamente com a impressão de que bastou Graça Foster assumir a diretoria de Gás e Energia da Petrobras para que a empresa de seu marido passasse a ser beneficiada em contratos com a estatal, dos quais quase a metade foi firmada sem licitação. Puro factóide. A reportagem feita pela Folha desconsidera uma série de informações relevantes que foram fornecidas pela estatal e que foram publicadas pelo Blog da Petrobras tão logo a estatal tomou conhecimento de mais esse factóide criado pela Folha.

Folha desconsidera informações dadas pela Petrobras
Passemos aos fatos. Para a elaboração da reportagem, a equipe da Folha enviou à Petrobras uma lista de sete perguntas, tratando exatamente da relação comercial entre a empresa do marido de Graça – a C.Foster – e a estatal. Contudo, ao elaborar a matéria, a Folha manipulou essas respostas, passando ao leitor informações incompletas e que inevitavelmente levariam a uma interpretação equivocada do seu conteúdo. Vejamos: na primeira questão, a Folha pede informações sobre o número de contratos feitos pela estatal com a C.Foster desde 2007, bem como o valor dos mesmos. A resposta da Petrobras foi a seguinte:

A Petrobras tem processos de pequenas compras realizados diretamente e descentralizados pelas unidades da Companhia. No caso concreto, as pequenas compras realizadas pelas áreas de Tecnologia de Informação e Telecomunicações – TIC, Serviços Compartilhados e Exploração e Produção, feitas no período de 2007 a 2010, totalizaram 42 processos de compras de componentes eletrônicos que somaram o valor de R$ 599 mil, sendo 20 processos realizados por dispensa de licitação em razão do valor ser abaixo de R$ 10 mil e os 22 restantes, por meio de processo licitatório, conforme estabelece o Decreto nº 2.745/98 e o Manual de Procedimentos Contratuais. Cumpre informar que a Petrobras tem inúmeros fornecedores de componentes eletrônicos, cujo volume anual de compras é de cerca de R$ 10 milhões”.

Percebam que na sua reportagem, a Folha omite que 1) as compras não foram realizadas pela diretoria de Gás e Energia (a qual pertence Graça) e sim por outras áreas da empresa; 2) os 20 contratos firmados sem licitação foram feitos dessa forma pelo valor deles ser inferior a R$ 10 mil; 3) o valor total dos contratos com a C.Foster é R$ 599 mil, o que corresponde a apenas 6% do volume anual de compras de componentes eletrônicos pela estatal (R$ 10 milhões). Em seguida, a Folha pergunta quantos desses contratos foram assinados por Graça, tendo como resposta da estatal “[Graça] não assinou nenhum processo de compra”.

Também foi perguntado pelo jornal qual foi a participação de Graça na contratação da C.Foster. Novamente, a estatal responde “nenhuma”. Naturalmente, essas informações também foram oportunamente omitidas da matéria publicada pela Folha de São Paulo. Perguntada pela Folha se existe algum tipo de para firmar contratos da Petrobras com empresas de diretores, a estatal foi bastante clara: “as normas legais que tratam da matéria estão contidas no Código de Conduta da Alta Administração Federal, no Código de Ética da Petrobras e no Decreto n° 7.203/2010. Todos estabelecem que seja vedada à autoridade pública a contratação direta sem licitação na área sob sua responsabilidade na empresa, cujo titular ou sócio guarde relação de parentesco. Portanto, os processos de compra objeto desta matéria, não foram realizados por qualquer área subordinada à Diretoria de Gás e Energia”.

As respostas da Petrobras deixam absolutamente claro que todos os 42 contratos feitos entre a estatal e a C.Foster, empresa do marido de Graça, ocorreram dentro da legalidade, não havendo qualquer esquema de favorecimento. Contudo, em sua reportagem online, a Folha omitiu uma série de informações que foram dadas pela Petrobras, provocando, dessa maneira, um equívoco bastante oportuno na leitura da matéria. Essa atitude da Folha só pode ter duas razões: 1) ou uma total inexperiência do jornalista responsável pela matéria; 2) ou uma manipulação premeditada das informações dadas pela estatal buscando, com isso, criar um factóide e desconstruir a imagem de Graça Foster, cujo nome vem sendo cotado para o primeiro escalão do governo Dilma.

O histórico da Folha faz com que fiquemos com a segunda opção. Afinal de contas, não seria a primeira vez que o jornal da família Frias manipula informações para criar factóides no sentido de “fritar” nomes ligados de alguma forma ao governo federal. A leitura das respostas dadas pela Petrobras deixa claro que houve uma má intenção da Folha na edição desta reportagem: caso contrário, o jornal não teria omitido informações que demonstram que não houve qualquer favorecimento nos contratos firmados entre a estatal e a empresa do marido de Graça. Mais um tiro no pé dado pela Folha, cuja credibilidade já não anda lá essas coisas.

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