sábado, 20 de novembro de 2010

Documentos da ditadura frustram jornalões e enchem de orgulho eleitores de Dilma

O acesso ao processo militar da Presidente eleita Dilma Rousseff (PT), por meio de autorização do Supremo Tribunal Militar (STM) na última terça-feira,16, apesar de previamente comemorado pela Folha de São Paulo e O Globo não trouxe informações tão “quentes” quanto esperavam os jornalões. Desde a campanha eleitoral, setores da grande imprensa – capitaneados pela Folha – insistiam para ter acesso aos 16 volumes do processo militar que culminou na prisão de Dilma durante o regime militar, provavelmente esperando alguma “bomba” que pudesse alterar os rumos da eleição.

Por uma coerente decisão do Presidente do STM, Carlos Alberto Soares, o acesso dos jornais ao processo militar de Dilma foi negado durante as eleições, sob a justificativa de se evitar o uso político destes documentos durante o processo eleitoral. Após a decisão do STM desta semana, tanto a Folha quanto O Globo tiveram acesso aos documentos que, para desapontamento destes veículos, não trouxeram quaisquer informações novas sobre o passado de Dilma. Nenhuma participação em assassinatos, nenhum sequestro realizado, absolutamente nada que pudesse ser usado politicamente contra a Presidente eleita.

“Joana D’Arc da subversão”
O deleite ficou por conta mesmo de milhões de brasileiros que, ao lerem nas páginas desses jornais o conteúdo do processo militar de Dilma, ampliaram ainda mais o orgulho em relação à Presidente eleita. Afinal de contas, Dilma é descrita ali como a “Joana D’Arc da subversão” e isto, dito pelo aparelho repressor da ditadura militar que reinou no Brasil durante duas décadas, é um elogio bastante considerável. Agora, o trecho mais interessante do documento diz respeito a um depoimento de Dilma à Justiça Militar no dia 21 de outubro de 1970, em que a então guerrilheira do grupo VAR-Palmares explica aos militares porque aderiu à luta armada.

De acordo com parte do conteúdo revelada pelo jornal O Globo, o trecho do documento militar diz o seguinte: “que se declara marxista-leninista e, por isto mesmo, em função de uma análise da realidade brasileira, na qual constatou a existência de desequilíbrios regionais de renda, o que provoca a crescente miséria da maioria da população, ao lado da magnitude riqueza de uns poucos que detêm o poder e impedem, através da repressão policial, da qual hoje a interroganda é vítima, todas as lutas de libertação e emancipação do povo brasileiro. Dessa ditadura institucionalizada optou pelo caminho socialista”.

É extraordinário sabermos que nossa Presidente eleita, sob tortura física e psicológica, teve a grandeza e coragem de dizer aos seus algozes que optou pelo socialismo porque era contrária aos “desequilíbrios regionais de renda” existentes no país. É, neste sentido, tentador fazer um exercício e tentar imaginar a cena: a jovem Dilma, então com 22 anos de idade, sentada em uma cadeira e cercada por militares, olhando no olho deles e dizendo que fez a opção pelo socialismo porque era contrária à miséria crescente de uma maioria em contraposição à riqueza de poucos.

Coragem e compromisso com justiça social
Imaginem a coragem dessa jovem, que nem imaginava que um dia seria Presidente da República, ao dizer aos militares que a repressão policial do regime instituído por eles era responsável pela existência de tamanho abismo social e que por isso optou pelo caminho do socialismo. Não há como deixar de reverenciar as palavras de Dilma, ditas em um dos interrogatórios aos quais foi submetida pelos militares. E é aí que os grandes jornalões perderam mais essa batalha: se esperavam sensibilizar a população com algum suposto “crime” cometido por Dilma, sensibilizaram sim, mas na contramão, pois os documentos revelados essa semana mostram que desde jovem a nossa Presidente eleita tem uma sensibilidade social extraordinária.

Dilma, como jovem de classe média que era, poderia ter continuado seus estudos em Belo Horizonte sem jamais ter participado do movimento estudantil e da luta contra a ditadura militar. Poderia ter se casado, tido filhos e seguido um caminho que era “natural” para pessoas de sua condição social. Mas não. Dilma não fechou os olhos à nebulosa situação em que se encontrava o país: ela optou pelo caminho mais difícil – optou por lutar contra a censura, contra a ditadura, contra a opressão e contra toda e qualquer forma de abismo social. Ela, que é apontada pelos documentos como “uma das molas mestras e um dos cérebros dos esquemas revolucionários postos em prática pelas esquerdas radicais”, optou por lutar pela democracia no Brasil.

Como não reconhecer a contribuição valorosa de Dilma para a luta pela redemocratização do Brasil, se os próprios militares, em certa altura dos documentos, comentam a capacidade intelectual da ex-guerrilheira: “trata-se de uma pessoa de dotação intelectual bastante apreciável”. É confortante pensar que nosso país, a partir de 1º de janeiro, será governado por uma mulher que não fugiu à luta, que resistiu bravamente à opressão do regime militar e que, além de todas essas credenciais, tem um compromisso histórico com a luta em prol da justiça social. De fato, o Brasil não poderia estar em melhores mãos. Afinal, Dilma somos todos nós!

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