segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Pelo retorno do companheiro Delúbio Soares ao Partido dos Trabalhadores

Uma das grandes lições que aprendemos no decorrer da luta social e dos embates ideológicos é que a política, não poucas vezes, pode ser muito cruel. É sabido que tudo na vida tem o seu preço: por que pensar então que seria diferente na política, cujos objetos são exatamente os sonhos, os projetos e as idéias? Quem exerce a atividade política através do embate ideológico sabe bem que é inevitável pagar o preço pelas escolhas feitas. Talvez escapem desta sina aqueles que vêem na política um caminho para o benefício individual em detrimento do coletivo: contudo, para os que carregam bandeiras e as defendem com toda garra, a cobrança das opções exercidas é recorrente.

Faço aqui esta digressão para falar do companheiro Delúbio Soares, que desde que foi deflagrada a pseudo-crise de 2005, viu seu nome, assim como ocorreu com outros companheiros, ser transformado em sinônimo da falta de ética, de corrupção e de práticas ilícitas. Um primeiro esclarecimento se faz necessário: uso aqui a expressão pseudo-crise porque desde a primeira vez que a li, no livro “Lula: entre a impaciência e a esperança”, do professor Cândido Mendes, não tive dúvidas de era a melhor expressão para se referir ao episódio que a imprensa e a oposição chamaram de “mensalão”. Isto porque, após uma série de denúncias, nada foi provado pelos acusadores. Contudo, a onda de denuncismo foi inflada artificialmente pela imprensa e ganhou proporções próprias de um tsunami, tudo num movimento meticulosamente calculado.

No final das contas, a versão do mensalão vendida pela imprensa e pela oposição caluniadora – a saber, um suposto esquema de compra de votos da base aliada (!) com dinheiro não contabilizado do caixa do PT – nunca foi confirmada. O que se sabe é que ao invés desse esquema mirabolante, fruto da mente fértil de um ex-deputado federal, o que se viu na realidade foi um caixa dois no PT. Longe de querer justificar a prática do caixa dois – que é um erro, mas não um crime – com velhos argumentos de que “todos os partidos fazem”. O PT não deveria ter feito e ponto. Nisso todos concordamos. Mas também havemos de concordar que uma coisa é caixa dois e outra coisa muito diferente é mensalão. Não nos aprofundaremos aqui nessa discussão, pois este não é o propósito deste texto: o que importa na realidade é entender essa pseudo-crise dentro de um contexto histórico mais amplo.

Setores da elite brasileira, apoiados por parte da grande imprensa, jamais engoliram a vitória de um ex-operário nas eleições de 2002. A chegada de Lula à Presidência da República foi sentida por estes grupos como uma verdadeira “bofetada”. Contudo, seus instintos de “agressividade política” foram contidos nos primeiros anos do governo Lula porque o preconceito desses setores era tão grande, mas tão grande, que de fato eles acreditavam que um ex-operário não seria capaz de fazer um bom governo. Sim, eles acreditavam que Lula meteria os pés pelas mãos e que, em 2006, eles seriam reconduzidos à Presidência da República. Contudo, essas expectativas pouco a pouco foram sendo diluídas, uma vez que a popularidade do Presidente Lula e a aprovação do seu governo eram cada vez maiores. A reeleição de Lula em 2006 tornava-se cada dia mais certa.

“O que fazer então?”, deveriam pensar os opositores nesta altura do campeonato. A jogada da oposição e da grande imprensa veio, em 2005, um ano antes das eleições presidenciais: eis que emerge a pseudo-crise do “mensalão”. Como dito anteriormente, uma onda de denuncismo logo se transformou em tsunami, a ponto de caciques da oposição decretarem a extinção do PT. Houve também – e como esquecer disso – uma revista que decretou: “era vidro e se quebrou”, trazendo em sua capa o desenho de uma estrela (símbolo do PT) de cristal, toda estilhaçada. Alguns quadros da oposição chegaram a pensar na proposta de impeachment do Presidente Lula. Contudo, como a popularidade do presidente já era grande, preferiram não levar essa idéia adiante. Acreditaram que a derrota de Lula seria no ano seguinte, nas urnas.

Mas por enquanto, na impossibilidade de derrubar o Presidente, era necessário derrubar as figuras fortes que estavam ao seu redor e, assim, desestabilizar o governo. Caiu José Dirceu, então ministro-Chefe da Casa Civil, e logo em seguida, Antônio Palocci, ministro da Fazenda. Mas a pseudo-crise não atingiu apenas o governo federal: ela teve impactos diretos no próprio Partido dos Trabalhadores. Companheiros com uma extensa biografia de lutas pelo partido e pelo Brasil foram covardemente caluniados por setores da grande imprensa e até mesmo por alguns outros companheiros, que não entendendo as cartadas da direita acabaram entrando neste jogo sórdido promovido pela oposição e pela mídia. Caiu o então Presidente do PT, o companheiro José Genoino, e naquele mesmo ano, o companheiro Delúbio, petista de primeira hora, foi expulso do nosso partido.

Pelo retorno de Delúbio Soares
Esse corte temporal se fez necessário para entendermos a exata dimensão em que se dá o objeto de uma reportagem de Cátia Seabra, da Folha de São Paulo, nesta segunda-feira, 17. Com o título de ”No ano do julgamento do mensalão, Delúbio articula sua refiliação ao PT", a reportagem espetaculariza um assunto que deveria ser de foro interno do partido e, pior, trata de forma premeditadamente equivocada o tom das discussões internas. Segundo a Folha, “em sua defesa, a justificativa será a de que o seu abandono expõe a risco o PT. O argumento é que o julgamento do mensalão será usado para arranhar a imagem de Lula e, sem amparo partidário, Delúbio ficará vulnerável. Petistas não escondem o medo de que, abalado pelo risco de condenação, Delúbio não se contenha e, no julgamento, dê declarações que possam prejudicar a sigla. No PT, houve quem tentasse dissuadi-lo de voltar. Mas, apoiado pelo núcleo da CNB, não dá sinais de desistência”.

Como militante do Partido dos Trabalhadores, ao ler as linhas maliciosas da Folha fui impelido a escrever esse texto, para registrar aqui minha ampla defesa ao retorno do companheiro Delúbio Soares às fileiras do nosso partido. As razões que me fazem defender, aqui neste espaço ou em conversas com outros companheiros de partido, o retorno do companheiro Delúbio ao PT são inúmeras. Em primeiro lugar, como expresso anteriormente, ninguém nunca provou a existência de mensalão, pelo menos na forma denunciada pela imprensa. Houve sim o caixa dois, que não é crime, mas sim erro político. E é um erro coletivo, pois não saiu da cabeça de uma única pessoa, mas partiu de sucessivas escolhas equivocadas que foram sendo feitas ao longo do processo de evolução do PT. Ora, se o erro é coletivo, por que então o castigo é individual?

É justo que um partido, que tem em seu Manifesto de Fundação a defesa do socialismo democrático, aja de forma tão contrária ao próprio socialismo que defende? Aqui me dirijo especialmente a alguns companheiros do próprio PT, que, devido a uma análise equivocada do processo histórico no qual se deflagrou a pseudo-crise de 2005, são contrários ao retorno do companheiro Delúbio Soares ao nosso partido. Como esses companheiros batem no peito para dizer que são socialistas se suas atitudes, ao criminalizar sem provas outros companheiros que empenharam suas vidas na construção desse partido, não condizem com o discurso? Lembro-me de uma excelente entrevista dada pela ex-Prefeita Luiza Erundina, hoje no PSB, ao apresentador Antônio Abujamra, na TV Cultura, em março de 2010.

Em certo momento da entrevista, Erundina disse a Abujamra: “não basta dizer que é socialista: suas atitudes precisam ser socialistas”. Acaso o socialismo defendido por estes poucos companheiros que se opõem ao retorno de Delúbio ao PT é o socialismo egoísta, aquele socialismo que se constrói a partir do sacrifício de outros companheiros? Se for isto, eu definitivamente não comungo deste socialismo. E que fique claro: não tento aqui vitimizar Delúbio, até mesmo porque este papel não serve para um companheiro com a grandeza dele. Grandeza sim, pois qualquer outro, ao ser expulso de um partido que ajudou a construir, teria se rebelado, teria procurado outros caminhos. Qualquer político fisiológico teria apressadamente encontrado outra sigla, se filiado e dado continuidade à sua carreira.

Delúbio, mostrando coerência ideológica e, sobretudo, lealdade ao PT, cumpre desde então o seu degredo, não criticando, mas cada vez mais apoiando o Partido dos Trabalhadores e o governo. Não me lembro de ter visto uma única vez nestes cinco anos Delúbio fazer essa ou aquela crítica rancorosa ao PT, muito menos me lembro de ter lido qualquer linha em que ele criticasse este ou aquele quadro. Ao contrário, no Twitter Delúbio Soares é defensor incondicional do governo Lula e, agora, do governo Dilma. Em seus artigos publicados em alguns jornais, o militante Delúbio se orgulha em ostentar os avanços do nosso governo, até mesmo porque ele é parte integrante de tudo isso. O que estamos fazendo hoje no governo é fruto de anos de construção partidária, na qual companheiros como Delúbio Soares, José Genoino, José Dirceu e tantos outros tiveram participação decisiva.

Não faz mais sentido impor essa pena ao companheiro Delúbio. Um quadro valoroso como ele, que mesmo nos momentos difíceis nunca tirou a estrela do peito, tem muito a contribuir com nosso partido e com o Brasil. Como petista, militante e defensor do PT, do governo Lula e do governo Dilma, eu apóio o retorno de Delúbio Soares! Por uma questão de justiça histórica e por uma questão de coerência com o socialismo defendido em nossos documentos históricos!

3 comentários:

  1. É muito importante essa questão Leandro,sou totalmente favorável ao retorno do Delúbio Soares e do josé Dirceu ao PT,eles são pessoas que já contribuiram bastante ao partido e podem contribuir muito mais no governo da Presidenta Dilma.O tal de "mensalão"denunciado pelo Roberto Jeffersson, até o momento não tem nenhuma prova concreta de que realmente tenha ocorrido.O episódio tenho certeza que foi mais um factóide criado pela oposição e propagado pela imprensa golpista para tentar derrubar o Presidente Lula e o partido dos trabalhadores.Como perceberam que não iriam conseguir derrubar o Presidente Lula,foram acusando e difamando os nomes fortes do PT.O retorno do Delúbio Soares e do José Dirceu ao partido e uma questão de justiça histórica, e como vc observou uma questão de coerência com o socialismo defendido em nossos documentos históricos!como petista apóio o retorno do Delúbio Soares e do José Dirceu!

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  2. Oi Alan, tudo bem?

    Só um esclarecimento: o companheiro José Dirceu continua no PT, sendo membro inclusive do Diretório Nacional! O que acontece é que seus direitos políticos foram cassados após as denúncias descabidas às quais ele responde (peculato, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro).

    O julgamento do Zé, assim como de outros réus do processo do "mensalão", deverá ocorrer ainda este ano. Defendo radicalmente o companheiro José Dirceu, pelos diversos motivos que apresentei no texto acima ao me referir ao companheiro Delúbio. É inadmissível que companheiros valorosos, com uma trajetória de lutas em prol de um Brasil mais justo, sejam criminalizados pela opinião pública sem que nada seja provado contra eles.

    Para você se inteirar melhor sobre o processo do companheiro José Dirceu, recomendo a leitura da Defesa dele, no seu blog pessoal. Aí vai o link:

    http://www.zedirceu.com.br//index.php?option=com_content&task=blogcategory&id=15&Itemid=22

    Forte abraço!

    Leandro

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  3. Oi Leandro,obrigado pelo esclarecimento!

    Também defendo radicalmente esses companheiros valorosos e que tanto lutaram e ainda lutam por um Brasil mais justo.De fato não e justo que pessoas tão valorosas sejam criminalizados pela opinião pública,sem nada tenha sido provado contra eles.
    Valeu a sugestão do blog!e vou me inteirar mais sobre o processo do companheiro José Dirceu.
    Abraços!

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