sábado, 3 de abril de 2010

O que a Veja tem contra a Sociologia e a Filosofia?



Muito se sabe que o trabalho do Sociólogo e do Filosofo é compreender a realidade em que habitam os humanos e suas estruturas sociais e de pensamento. Essa compreensão sempre foi perigosa para uma parcela dos agentes políticos que está mais preocupada em perpetuar a institucionalização acrítica da qual fazem parte, do que promover as mudanças de que o povo necessita. Assim, a Sociologia e a Filosofia sempre se mostraram perigosas para estes políticos demagogos, por colocarem em xeque os seus valores conservadores acerca dos Sistemas Sociais.

Ora, mas ao mesmo tempo em que essa parcela da classe política de caráter demagogo vê a filosofia e a sociologia como riscos, ela também se apóia em veículos da grande imprensa que lhes servem como verdadeiros panfletos políticos. Neste sentido, a revista Veja é, há décadas, um poderoso instrumento da direita para disseminar seus conceitos e valores políticos. Tanto que na edição desta semana, a Veja publicou uma matéria que critica a introdução de jovens nessas duas matérias, o que nos lembra, como sempre, que o Sistema Social possui anticorpos.

Um trabalho importantíssimo por parte dos Sociólogos, Antropólogos e Cientistas Políticos é exatamente estudar a estrutura da Ideologia e apresentar as sociedades que o que se tem como divino; é humano, o que se tem como eterno; é temporal, o que se tem como criador; é criatura, o que se tem como natural; é social. Assim, é de se esperar que essa revista elabore uma matéria tão portadora de Ideologismo e conservadorismo, que já em muito prejudicou a sociedade brasileira. Se apoiando na muleta, talvez, que o Brasil esquece fácil sua história.

A todo tempo se propaga nesta revistinha a biologização do social, a perpetuação de idéias que, no século XIX, se baseavam na biologia para justificar preconceitos e desigualdades sociais. Como se os preconceitos e as desigualdades sociais fossem algo de uma “natureza humana”, que, todo Sociólogo, Antropólogo e Cientista Político bem sabe, não existe. O humano é, em seu nascimento, uma inespecificidade biológica.

“Agora obrigatórias no ensino médio brasileiro,
as aulas de sociologia e filosofia abusam de conceitos
rasos e tom panfletário. Matemática que é bom...”
(De: Veja)

Impossível negar a importância da Matemática. No entanto, da forma retrograda que é ensinada na escola, pouco contribui para um desenvolvimento critico do aluno. Mas é exatamente dessa forma que os anticorpos sociais desejam que as matérias sejam lecionadas, para não representar nenhum potencial perigo no controle da massa social. Não é de hoje que os dois grupos de profissionais criticados pela matéria vêm denunciando isso. Agora o desejo é calar-nos.

“Desde a década de 70, quando se firmaram como trincheiras de combate à ditadura militar nas universidades, tais cursos se ancoram no ideário marxista, à revelia da própria implosão do comunismo no mundo - e estão cada vez mais distantes do rigor e da complexidade do pensamento do alemão Karl Marx (1818-1883). Diz a doutora em ciências sociais Eunice Durham, da Universidade de São Paulo: "Boa parte dessas faculdades propaga apenas panfletos pseudomarxistas repletos de clichês e generalizações, sem se dar sequer ao trabalho de consultar o original".” (De: Veja)

Sim, as faculdades de Ciências Sociais (Sociologia, Antropologia, Ciência Política) e Filosofia se posicionaram duramente contra a ditadura apoiada largamente pela Direita, o que é totalmente aceitável, e um trabalho nosso, contrariar a opressão e a ausência de liberdade democrática. Vejamos o disparate proferido pela Dra. Eunice Durham, de que boa parte das universidades brasileiras se baseiam na superficialidade do conhecimento social e dos estudos referentes aos textos de Marx. Onde, posso constatar, a UFRN e o curso de Ciências Sociais se baseia completamente no estudo sobre os textos originais, não só de Marx, mas de tantos outros pensadores importantes.

“Em 2001, projeto de lei com o mesmo propósito havia passado pelo Congresso, só que acabou vetado pelo então presidente (e sociólogo) Fernando Henrique Cardoso. À época, um parecer do MEC afirmava que os gastos para os estados seriam altos demais e que não havia no país professores em número suficiente para atender à nova demanda.” (De: Veja)

O vendedor Fernando Henrique Cardoso, direitista como era e é, naturalmente iria se opor a doação dessas armas políticas para a População, já que, conhecedor dos sistemas sociais e do potencial que a educação tem sobre uma Sociedade, não iria querer ver seu império conservador sendo analisado e criticado por grande parte dos estudantes brasileiros. Como já foi dito, os Sistemas Sociais têm anticorpos. Se basear na não distribuição desse conhecimento para os jovens, na falsa idéia que o Brasil não tem dinheiro para tal, é culpar o termômetro pela febre, já que, através de políticas que priorizem a educação superior - como foi feito a posteriori pelo governo Lula - é possível sim abrir essas possibilidades. Exatamente baseado nesse conceito de falta de verba, as universidades brasileiras não investem em cadeiras para Sociólogos, Antropólogos, Cientistas Políticos e Filósofos.

"Os países mais desenvolvidos já entenderam há muito tempo que é absolutamente irreal esperar que todos os estudantes de ensino médio alcancem a complexidade mínima dos temas da sociologia ou da filosofia - ainda mais num país em que os alunos acumulam tantas deficiências básicas, como o Brasil" (De: Veja)

Claro que é absolutamente irreal esperar que TODOS os estudantes consigam a maturidade intelectual suficiente nos temas sociológicos e filosóficos, como é de se esperar que nem todos os estudantes consigam aprender os cálculos matemáticos, as leis físicas e as organizações químicas celulares. Mas esse argumento não é usado para desestabilizar a Matemática, Física, Química e Biologia na grade curricular do ensino médio. Tão importante quanto fazer cálculos e estudar os compostos orgânicos, é entender o pensamento racional humano e as estruturas sociológicas da realidade.

(Texto de Leonardo Antunes, graduando em Ciências Sociais pela UFRN)

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